É muito triste, adultos colocarem culpa e tratarem mal os jovens, pelo caos, em que o mundo se encontra. Como podemos julgar o comportamento dos jovens, sendo que o nosso não é muito diferente, tampouco melhor? Ah! Mas eu não uso drogas. Alguns podem dizer. Drogas ilícitas, pode até ser. Contudo, as que facilmente são obtidas em farmácias, supermercados e bares, estas, esquecemos de contar e aceitar como drogas. Diga-me: Será que não somos viciados em nada? E os remédios para emagrecer, calmantes, ansiolíticos, anfetaminas, anti-inflamatórios, analgésicos, viagra, cigarro, bebida alcoólica, sexo, comida... ? Há pessoas viciadas em comprar sapatos, cosméticos, roupas, em trabalho, estética, mania de perfeição, maledicência, mentira, preguiça, poder, dinheiro, status, mesquinhez, brigas, autoridade, e o seu contrário, o coitadismo, entre muitos outros... Isso, não são vícios? Não? Tente tirar delas essas coisas, e verá o quão dependente são. Vícios velados como estes, são totalmente aceitáveis. Nem são considerados vícios. O problema mora aí.
É bonito uma mãe ter duzentos pares de sapatos e a filha carente de beijos? Como vocês acham, que um filho se sente quando é repreendido por sua mãe com síndrome de arrumação só porque ele pisou com tênis molhado no chão que ela acabou de limpar?
E aqueles pais que chamam seus filhos de preguiçosos, burros, capetas, terríveis, insuportáveis, fracos, geniosos, interesseiros, vagabundos, são por acaso limpos, sóbrios e sadios? Muitos foram “educados” assim. E a maldição continua... De geração em geração. Quando, vamos cortar esse mau hábito? Transcender esse carma? Nossos jovens sofrem...
E o impacto, na alma do menino, que vai todo feliz, mostrar seu desenho para o pai que está ocupado com o trabalho, e este, lhe dá uma resposta só com um olhar de lado e uma fala curta e fria. O pai diz: Legal, mas agora estou ocupado. Tenho muito trabalho a fazer. Sustentar essa família não é fácil.
E os filhos, que crescem em um ambiente de brigas, chantagens, cobranças, ausência, ofensas mútuas entre seus genitores, com agressões psicológicas, verbais e até físicas? Será, que esses seres, que vieram a este mundo para nos dar alegria, nos ensinar, crescerão bem, viverão com plenitude, darão frutos? Os frutos disso? Estamos vendo por aí... Veja o mundo como está. Um remake dos pais. É minha gente, a coisa é punk...
Aprofundemos no assunto. Os vícios que causam dependência química, não são nada, perante os que causam dependência psicológica. Vamos observar juntos: As drogas mais pesadas, onde o comportamento da pessoa é visivelmente notado é uma minoria. Que chama atenção, vira notícia, porém, mesmo assim é minoria. Fácil de resolver o problema. Interna-se, ou prende-se o drogado e pronto. Acabaram-se os escândalos. A família não passa mais vergonha. Agora, os viciados em cigarro, bebida, sexo e remédios, são notados, quando já estão muito dependentes, doentes e depressivos. Por que até então, era só festa, buscando prazer, ou fugindo da dor. Porém, há e pouco se percebe os vícios mentais, vícios de personalidade, que todos tem e facilmente são mascarados. Seus efeitos sutis, mas destruidores agem como água que mina numa infiltração e, que fatalmente, destruirá relações, famílias e sociedades inteiras.
O que fazer com os pais que falam para criança, que quem faz tatuagem e coloca piercing é gente feia, que é nojento, que é coisa do demônio? Conseguem notar um preconceito sendo semeado aí? Implantou-se na mente da criança que tatuagem e piercing são feios. Pronto. Um belo dia olha o resultado dessa ação. A criança, toda vez que ver alguém com tatuagem e piercing, vai repetir o que fora gravado em sua mente. As palavras, feio e nojento virão do seu subconsciente numa fração de segundos, e ela, dirá sem pensar. Detalhe: Com a mesma raiva e intensidade de quem lhe ensinou esta lição de medo disfarçada de amor. O cerne disso é a preocupação, esta, que provém do medo. E como sempre digo: Medo é treva. Olha aí. Uma criança que até então estava com a mente pura, agora está manchada de lama, de maldade humana. Mas, tem um detalhe. Na adolescência, esta mesma criança, para não desagradar agradar os pais e ter o que quer, poderá ainda ter horror de tatuagem e piercing. Contudo, algumas com personalidade mais forte, contrariadas com as atitudes dos pais, farão exatamente aquilo que eles odeiam. Terão amigos ou namorarão pessoas tatuadas e ou com piercing , ou farão em si mesmas. Apenas para contrariar, provocar. Sendo espelhos, para refletir o que os pais são. Preconceituosos.
Mas como eu vou educar meus filhos? Ué... Seja criativo, sensato, cristão. Use uma maneira positiva para educá-los. Como? Diga pra eles o quanto seus corpos já são belos por natureza. Mostrem, casos de pessoas que fizeram tatuagem e se arrependeram, ao perderem a vaga no emprego que desejavam. Mostre, usando da internet, pessoas que colocaram piercing onde houve complicações como inflamações e até problemas mais sérios. Ensinem, principalmente, sendo exemplos, de como ter uma personalidade própria, sem ser afetado por modismos. Ajam sempre com muito amor. Sejam exemplos de compaixão e não critique quem faça. Os filhos não são bestas. Eles percebem as sutilezas da personalidade dos pais. E se os afrontam, é porque alguma coisa eles fizeram. Deixo claro, que não sou a favor nem contra tatuagem, piercing, etc. Estamos apenas falando de como orientar jovens de 13, 15, 17 anos a escolher com critério algo que ficará marcado para sempre em seus corpos. De preferência, que escolham com lucidez, após terem seu próprio dinheiro e maturidade para isso. Isto é para os pais, que não gostam e não querem que os filhos façam. Porém, há os que gostam, tem, e apoiam os filhos a fazer. Contudo, também ensinem a seus filhos, que tudo na vida tem um preço.
Sinceramente, não vejo diferença, numa jovem querer fazer uma tatuagem porque está na moda, e uma mãe que compra uma bolsa, corta e ou pinta o cabelo igual da atriz da novela por está na moda. Seguir os outros é seguir. O exemplo maior, sempre é o de casa. Os filhos são reflexos dos pais. O comportamento deles é projeção da mente dos que cuidam. E quando surtam, vão pras ruas, fazem loucuras, a culpa, é só deles? Ninguém olha pra trás e faz um levantamento da vida desses jovens, para ver o por que desse comportamento agressivo. Jovens agressivos são crianças que foram muito agredidas e ainda são. E cansados de sofrer, se vingam da sociedade, se vingam dos pais.
Filhos afrontando os pais. Por que será que isto está acontecendo tanto? Fácil de responder: Pais preconceituosos, ausentes, ditadores, omissos, mentirosos, fracos... Querem mais motivos? Como vocês acham que ficará a mente de um filho que diz aos pais que quer ser modelo, ator, e ouve da boca de seus maiores ídolos, que isso é coisa de viado? E aí. Já pensaram sobre isso? E a menina que quer ser modelo e a mãe, diz que ela é muito inteligente pra isso? Isso, quando falam bem. Porque, na maioria das vezes, dizem que só faz sucesso em profissões assim, moças que se vendem. E nem sempre, isso acontece. Puro preconceito. E falando em se vender. Quem de nós, adultos, nunca se vendeu de alguma maneira? Ou por dinheiro, carro, joias, poder, status, sexo, drogas, emprego, conforto, segurança? Atire a primeira pedra quem nunca se vendeu. Parafraseando Jesus. Agora, vamos julgar, condenar os jovens que estão por aí rebeldes, fazendo tudo o que lhes vem na cabeça? Hipocrisia. No mínimo eles são melhores do que nós. São mais corajosos e verdadeiros, porque fazem as claras, coisas que nós, adultos, fazemos escondido.
Um rapaz observa a mãe, se preparando contra gosto para ir à igreja. Ela não queria ir. Ela até gosta, ela vai sempre. Mas, hoje ela não estava muito afim. Aí ele pergunta:
- mãe, a senhora vai à igreja, mas, por que está com esta cara?
- ah! Filho, hoje eu não queria ir, estou cansada. Mas, tenho que ir. Responde a mãe.
Ele retruca:
- mas por que tem que ir? A senhora é livre.
- então filho, não é fácil assim. Parece fácil dizer, não vá. Porém, tenho que ir, porque as pessoas vão reparar que eu faltei. E eu poderei ficar falada na igreja. A fulana faltou. Podem dizer. E ele insiste:
- mas mãe, a senhora tem tanto medo de que falem da senhora assim? E ela diz:
- tenho filho, você não sabe como as pessoas são.
Ele pensa:
- to vendo... Ainda inconformado, fala:
- mas qual a origem desse medo mãe? E ela responde:
- sabe filho, sinto-me muito sozinha. Seu pai quase não fica em casa. Ele trabalha muito. Vive viajando. E eu só tenho amigos, nesse grupo de oração. E eu, tenho medo de faltar muito e ser excluída do grupo. Se eu faltar três vezes seguidas, sou expulsa. E assim, tenho medo de ficar mais só do que já sou. O filho sentido diz:
- entendi mãe. Então vá, mesmo contrariada.
Eu contei essa estória para que percebam a dependência emocional a quais muitas pessoas se encontram. Vamos refletir: Há diferença, nessa mãe que fará algo - ir á igreja -, só para não ser excluída de seu grupo, que é a única coisa que tem no momento, de um rapaz, que faz uma tatuagem, coloca um piercing, fuma um baseado, cheira cocaína, pratica um furto, só para ser aceito no grupo dele? Ele também se sente sozinho. Está contrariado. No lar, só há brigas. Ninguém lhe dá amor, muito menos atenção. Só tem companhia na rua, só os amigos o ouvem, só tem paz fora de casa.
Dependência emocional. É dependência. Como isso soa dentro de você? Você está dependente, emocional, psicológica e financeiramente de alguém? Dependência é dependência, meu bem. Um viciado que precisa da droga e uma pessoa que por apego, sofre, porque necessita da presença, do afeto, do dinheiro, da segurança, de outra pessoa para ser feliz, para ser alguém, é dependente igual. E aí minha gente, o que fazemos? Primeiramente, devemos assumir as nossas dependências, os nossos vícios, e parando de julgar os viciados ao nosso redor. Já é um grande passo.
Identificadas as carências, veja no que está apegado. Se a dependência for emocional, é provável que sua auto estima esteja lá na sarjeta. Você deve se achar um lixo. Um nada. Onde, qualquer um é mais que você. Fala pra mim. Aonde você aprendeu que é menos? Quando se sentiu inferior a alguém? Em que momento, gritaram com você e o fizeram passar carão nas frente dos outros? Isto te reporta a algo? Agora, se a dependência é psicológica, aí ó caso é um pouco mais complexo. Porque, está relacionado com a personalidade da pessoa. Esta depende totalmente das ideias dos outros. Não pensa por si só. Está morta viva, vazia. Praticamente um zumbi. É um corpo que anda sem a alma. Se questionar. Apenas obedece. E a dependência financeira é a mais comum, a que quase todos sofrem. Um mundo de prostitutos... Há os profissionais, e os que fingem. Para disfarçar, dão outros nomes. Como: faz parte do plano, troca de gentileza, acordos políticos, se eu não fizer isso eu não governo, assistencialismo, é só um favorzinho, há pessoas que depende de mim, faço para não perder o emprego, jogo de interesses, etc.
Engraçado, não é? Como a gente, tem a capacidade de mascarar as coisas, os vícios, para não encarar a realidade nua e crua. E não estou aqui para criticar ninguém. Estamos só conversando. Quem sou eu para isso? Apenas observo como nos comportamos, para que aja uma reflexão. E com isso, decidirmos, se continua assim ou mudamos. Contudo há coisas que me deixam louco. Mechem comigo. O exemplo de pessoas que falam na presença dos filhos que outro é feio, gordo, pobre, nojento, drogado, negro, viado, bandido. Que fulana é separada, é prostituta, que está no pecado, não é da minha religião, etc. Isto me tira do eixo. E o que vejo, são essas mesmas pessoas, sozinhas, vazias, frias, sem luz, frívolas, fanáticas, preconceituosas, com uma energia tão ruim que ninguém quer ficar perto.
Quem é bonito? Quem é feio? Qual é o padrão? A beleza está na alma de quem vê. Tudo depende. Tudo é relativo. Dá para ampliar a visão? Sentir com a alma? Ver além das aparências humanas e efêmeras?
O divertido, é que estas pessoas por serem assim, sofrem dos mesmos julgamentos que fazem. A maioria encontra-se só, mal amadas, despercebidas. Por quê? A energia emanada da pessoa é o seu pensamento em vibração. Uma energia ruim, derivada de pensamentos ruins, de feiura, maldade, crítica, atrairá o que? Energia semelhante. Simples assim.
Será que aqueles adultos que adoram discursar para os jovens sobre moral, ética, honestidade, amor, família, religião, são exemplos de sua preleção? Será que são amados de verdade? São realizados? Estão com alguém realmente? Amam e são amados? Trocam gestos de afeto na frente de seus filhos? São sinceros consigo e com outros? São honestos em tudo? São felizes? O seu lar é harmonioso? Quantas vezes o amor, o perdão, a gratidão, o respeito, a gentileza, a alegria foram protagonistas em suas casas? Quantas vezes suas atitudes deram orgulho aos seus filhos? Agora, cobrar conduta dos filhos, sendo que os próprios pais não fazem por merecer. Sinto muito. Não há como. Nossos jovens não são burros. Eles estão se comportando assim em sinal de protesto. No lugar de criticá-los, deveríamos entendê-los. Por que agem assim? Já perguntaram para eles?
Certa vez, dando aula de pintura em um projeto municipal de reintegração para menores infratores, perguntei a um rapaz que era novo na turma. Fui rodeando para não ofendê-lo:
- Por que você veio parar aqui? Pegaram você pichando muro? Ele respondeu:
- que nada professor. Maconha.
Respirei fundo e disse:
- hmm... Entendi. Continuei:
- e qual a sua idade?
- dezesseis. Respondeu encabulado.
Fui inteirando-me da situação. Perguntei novamente:
- Você fuma desde que idade?
Ele abaixa a cabeça com vergonha, querendo se enfiar debaixo da mesa e diz:
- dos doze.
Segurei minhas lágrimas, com tal impacto. Pedi ajuda para Deus me iluminar. Perguntei mais:
- e por que você fuma maconha? O que isto lhe trás?
Ele levanta a cabeça. Dá uma risadinha e solta:
- ah! É da hora professor. A gente fica alegre. Dá uns barato na gente. Parece que a gente ta flutuando. A gente se sente leve. E da vontade de rir a toa.
Pensei e não resisti. Falei:
- e os seus pais?
- que que tem eles? Respondeu secamente.
- eles moram junto? Você mora com eles? Continuei.
- sim. Ele já estava ficando irritado.
- eles brigam muito? Tive que perguntar.
E a resposta foi:
- nossa! Demais. Eles quase se matam. Todo dia tem briga. Por isso saio de casa.
Aí, já mutilado por dentro. Finalizei dizendo:
- agora, você entende porque fuma maconha?
Para tirar um pouco do fardo que a sociedade lhe pôs nas costas, com todos os preconceitos e marginalização que passou. Falei:
- olha rapaz, você é um menino muito bom. Ouça-me com atenção. Você não tem culpa de nada de tudo que fez. Não lhe ensinaram outro caminho, outras alegrias, não lhe deram amor, para que sentisse uma sensação de leveza, que nenhuma substância poderia te dar. Se você fez até hoje, coisas ruins, é que nunca lhe falaram que você é bom. Que você é divino. Que é amado. Nunca lhe apresentaram o amor. Nunca lhe cobriram de beijos, de abraços apertados para sentir-se seguro. Você está de cabeça baixa, com vergonha, é porque nunca te olharam nos olhos e disseram que você é importante. Que a vida deles, não faria sentido sem você. Ao contrário, fizeram de tudo o que puderam para lhe afastar de casa. No lugar de cuidar, lhe entregaram pro mundo. E você, está aqui agora, porque foi pego com drogas. Por causa de uma droga de vida. Você é jovem, viveu pouco e já sofre como adulto.
- é nada professor. Num presto mesmo. Sou uma tranqueira. Ele rebateu.
(Amigos, conseguem imaginar, com quem ele aprendeu esses adjetivos a respeito de si mesmo?)
Mas não desisti.
- bom, eu acredito em você. Pra mim, você um filho de Deus, perfeito.
Ele teimosamente me enfrentava. Dizia:
- não vem com essa conversa não. Deus não existe, e todo mundo tem defeito. Somos todos imperfeitos. Ninguém presta.
- ta bom. Tudo bem. Mudemos de assunto. Falei, acalmando a situação.
- e o que você quer ser quando ficar adulto?
- traficante. Ladrão de banco, dever ser da hora também. Respondeu fazendo caras e bocas para os amigos da sala.
Para poder dar aula e conter os ânimos desses jovens, mais rapazes do que moças, sempre levava balas, pirulitos, gominhas e chocolates. E fazia um acordo. Quem escrevesse vinte vezes de cada lado da folha de papel sulfite, EU SOU FILHO DE DEUS, ganhava as guloseimas. Para ganhar os chocolates, o desafio era maior. Precisava escrever, EU SOU FILHO DE DEUS – SOU PERFEITO – SOU UMA BOA PESSOA. Só mesmo pelos chocolates que faziam. Alguns irritados largavam as folhas e saiam da sala. Porém, queriam os doces, voltavam. E eu com dó. Falava:
- fala pra mim vai. EU SOU FILHO DE DEUS. Não vai doer.
- ai professor que coisa chata. Eles falavam com a mãe estendida querendo os doces.
- fala pra mim vai. Só uma vez. Aí te dou as balas. Insistia.
- ta bom. Sou filho de Deus. Me dá a bala vai.
O interessante é que o doce das balas foi adoçando um pouco o coração tão amargurado desses jovens. Passava alguns minutos, eles voltavam com a mão aberta, pedindo:
- o professor, libera mais uma bala aí.
- você já sabe o que tem que fazer. Eu falava sorrindo.
- sou filho do capeta. Respondia um com cara de malandro.
- não tem problema. O capeta também é filho de Deus. Retrucava com ele.
- mas ele é do mal, né professor?
não sei. Nunca o vi. Mas, já vi muitos adultos tendo atos demoníacos por aí. Diariamente eu vejo. Principalmente, esses que te afastaram da sua luz. Estes que não lhe apresentaram Deus. E dava-lhe mais balas. Se o capeta existe, e ele é responsável pelo mal no mundo como dizem, todos nós, estamos compactuados com ele. Sabe rapaz, deixamos a maldade entrar em nós pelo caminho do exemplo, nas nossos escolhas. Quando não perdoamos, quando nos achamos melhor que os outros, quando agimos com preconceito. Agora como alguém pode dizer que você é um capeta e age como tal, sendo que nunca lhe falaram que você é bom, é luz, é filho de Deus? Como cobrar de você uma conduta exemplar, se não lhe ensinaram ser bom? Não lhe convenceram, desde pequeno, que é pura bondade?
dá mais bala professor. Pediu já cansado da minha conversa.
Ri e dei-lhe mais balas.
Agora, mais adoçados, voltavam com umas caras de safados.
- o professor, libera o chocolate aí vai.
Então, meus filhos de Deus, perfeitos, peguem a folha e caneta, sente-se com seus amigos e escrevam o que pedi.
Vinte vezes de...
- já sei, já sei. SOU FILHO DE DEUS – SOU PERFEITO – SOU UMA BOA PESSOA. Falavam imitando-me.
- isso mesmo. Olha como vocês são inteligentes. E ainda, tem boa memória. Elogiava-os.
Em meio a brincadeiras e gracinhas, típico da idade, escreviam, e em alguns momentos, havia silêncio. Pouco, mas profundo. Enquanto escreviam, por causa dos doces, observava como num passe de mágica seus semblantes mudarem, uma doçura em seus olhares brotava. Era a força da palavra agindo neles. Desta vez, de forma positiva.
A caneta corria no papel, ia desenhando cada letra das palavras que pedi. Alguns com mais capricho, outros mais relaxados. Mas, escreviam. Queriam os doces. Eram desejosos de ser adoçados. Queriam experimentar uma doçura que nunca tiveram até então. Fui observando todo esse milagre. Deus entrava nesses jovens pela escrita, pela palavra, pela visão do que escreviam. Eles absorviam Deus sem pensar Nele. Pensavam apenas nos chocolates. Porém, escreviam, e ressurreição se fazia. Estavam mortos, abandonados, largados. Mas, ao sorver da luz que emana do nome DEUS, escrevendo que são filhos Dele, o milagre da vida acontecia. A luz deles fora atiçada. E esta, resplandecia em suas faces, iluminando seus rostos. ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS. Essa frase vinha em minha mente. Logo em seguida, outra. VÓS SOIS DEUSES. Quando vamos acreditar nisso?
Cada jovem que terminava de escrever, me entregava as folhas e como prêmio recebiam as balas e chocolates. Saíam felizes. Uns cansados, porém, ansiosos pelos doces.
Iam embora, com os bolsos pesados de doces e cheios de Deus. Valeu a pena? Para mim sim. Sementes foram lançadas no inconsciente desses jovens. Semente de Deus. Seus corações foram adoçados. Acabou meu contrato nesse projeto. Dei o meu melhor. Fiz o que podia. As balas acabaram, contudo Deus fora gravado na alma daqueles jovens. Tenho esperança de colher muitas flores nesse jardim. Quando? Não importa. Só tenho uma única pressa. De falar, que você é luz. Que você é, um filho perfeito de Deus. E que Ele te ama. E jamais, poderá deixar de te amar.
Falamos de vícios, de preconceito, de dependências... Falamos de resgates, de ressurreição. Adorei estar com vocês.
Esse texto eu não termino. Porque a vida continua...
Quer uma bala?
Marcelo Miura
Araraquara – 04 de abril de 2011 – 23h 17